Na 59.ª assembleia anual da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), encerrada no dia 2 de setembro passado no Santuário Nacional de Aparecida, foram comemorados os 70 anos da fundação da entidade, que representa o episcopado católico do Brasil. A criação da CNBB deu-se no contexto do pós-guerra, quando o papa Pio XII, como já fizera seu predecessor, Pio XI, conclamava os católicos a assumirem de maneira corajosa e organizada suas responsabilidades de cidadãos.
De maneira geral, os católicos já dispunham de diversas organizações proporcionadas pela Ação Católica, presente em muitos países, para a sua formação cristã e o preparo para o diálogo e a atuação na sociedade. Para os bispos, foi criada, em 1952, a Conferência Episcopal, à semelhança das que já existiam em outros países. Naquele início, a conferência teve a ação decisiva do jovem sacerdote cearense Hélder Câmara, que viria a ser, logo em seguida, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e primeiro secretário-geral da CNBB.
Os principais objetivos da Conferência Episcopal eram a promoção do diálogo, intercâmbio e comunhão entre os bispos, junto com o discernimento sobre a realidade da Igreja e da sociedade brasileira e sobre as orientações que deviam ser implementadas nas atividades episcopais nas dioceses de todo o Brasil. As diretrizes pastorais da conferência ajudaram muito a manter o trabalho da Igreja aderente às realidades da vida do povo. Desde logo, também ficou claro que a CNBB tornava-se o interlocutor mais representativo e reconhecido da Igreja e do episcopado católico nacional nas relações da Igreja com a sociedade em geral e com os poderes públicos, de maneira especial.
Nos 70 anos de existência da CNBB, além do constante serviço prestado à vida interna da Igreja, a CNBB marcou presença na sociedade e fez ouvir sua voz nos momentos cruciais da vida nacional. Grandes nomes, como os de Dom Hélder Câmara, Dom Jaime de Barros Câmara, Dom Avelar Brandão Vilela, Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Lucas Moreira Neves, Dom Geraldo Majella Agnelo e Dom Geraldo Lyrio Rocha foram marcantes na CNBB nos 70 anos de sua história. Diante das violações dos direitos humanos e da dignidade da pessoa, do desrespeito à vida, das situações de miséria e fome, das violações da ordem democrática e do restabelecimento da democracia no Brasil, a CNBB somou-se a outras entidades da sociedade civil na tomada firme de posição e na mobilização para a superação dos males que afligiam o povo brasileiro. A CNBB participou de maneira eficaz de iniciativas voltadas a melhorar os instrumentos de combate à corrupção eleitoral, como as leis “das eleições limpas” e “da ficha limpa”, ambas de iniciativa popular, que contaram com o apoio maciço e capilar das organizações da Igreja Católica, incentivadas pela CNBB.
A Campanha da Fraternidade, promovida anualmente pela CNBB há 60 anos, sempre sobre algum tema de ordem social e ética pública, é uma iniciativa de educação popular de grande abrangência e significado.
As muitas declarações e pronunciamentos da conferência, por meio de sua direção ou por manifestações de sua assembleia-geral, sempre foram a expressão de um discernimento sério sobre as situações vividas pelo povo e pela Igreja, à luz dos princípios cristãos para a boa convivência social. Não raro, essas manifestações da CNBB foram interpretadas, de maneira equivocada, como atitudes partidárias ou de oposição a algum governante, sobretudo tratando-se de questões relativas à justiça social e econômica, à honestidade pública, ao respeito integral à vida humana e à dignidade da pessoa e ao respeito dos pobres, enfermos e excluídos da sociedade. Para a CNBB, porém, sempre foi claro que sua posição não era partidária nem subserviente a partidos ou governantes do momento e que ela devia permanecer fiel aos seus princípios e coerente com o Evangelho de Cristo e os valores cristãos para o convívio humano.
Também no contexto da comemoração do bicentenário da Independência e da atual campanha eleitoral, a voz da CNBB se fez ouvir mais uma vez, de maneira enérgica e coesa, para conclamar todos ao respeito à democracia e suas instituições, contra a disseminação de fake news e a favor do compromisso autêntico com a verdade e contra a manipulação das consciências mediante o uso instrumental da religião e do nome de Deus.
Ao congratular-se com o povo brasileiro pela comemoração do bicentenário da independência do Brasil, a CNBB também lembra que os benefícios da independência precisam chegar a todos os brasileiros mediante a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso às oportunidades de trabalho, moradia, saúde e educação. A independência do Brasil é uma construção permanente, que requer a participação ativa e vigilante de todos os cidadãos.
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